sábado, 17 de maio de 2008

Pérfidas 8

- Kardecista, gerente de RH ou pop-artista? De família alemã, blogueira, rotariana? Pós-algo, talvez?
- Graduanda em Ciências Sociais.
- Tenho o que precisa. Opinião insensata com lágrimas de rebeldia. Algumas certezas, convictas como gritos púberes, e nenhuma dúvida sobre os erros alheios. Vai levar?
- Funciona?
- Olha a sua volta, garota: você está num supermercado de opiniões. Na barraca ao lado, o produto é o mesmo. E na outra. Às vezes, muda a embalagem. Ou o sabor. Mas no fundo, onde se nutrem as traças, fica tudo igual. Garantia de um ano ou seu tempo empenhado de volta.
- Me dá dois.
- Embrulha o outro pra presente?
- É prum amigo. A TV dele quebrou.
- Faço três pelo preço de dois.
- De graça? Suspeito.
- Encare como uma corrente: três contaminam mais três que contaminam mais três que contaminam mais três e por aí foi. Leva, oferece para alguém que precisa. Faz uma doação.
- Dois pra presente, então. Capricha no visual. Faz um pacote grande, pra impressionar.
- Dialéticos e sintéticos na medida certa, prontos pra se fazerem acreditar. Boa viagem e boa sorte.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Extemporâneas

cada dia, cada dia, cada dia, cada dia, cada dia
é igual a cada dia
é igual
É
não é mais

Vou? Vai. Vôo.

domingo, 4 de maio de 2008

Pérfidas 7

O mesmo fluxo de capital não corre debaixo da mesma ponte, entabulou o ex-maoísta que fez carreira em Wall Street. Portanto, o que foi especulado referenciado está - ou estará, a depender da flutuação do câmbio futuro atrelado à estagnação passada.
O indivíduo, o mercado ou o samba de uma nota só consumiram todo o tempo, mas sobra espaço para a projeção dos índices de preços. Quanto custa? Chame o analista, porque Freud não explica. Entre altos e baixos, é preferível reter os ativos medíocres - numa avaliação conservadora dos fatos.
As informações que chegam dão margens a movimentos ousados, desde que descabidos de senso oportuno de improbidade. Após semanas de quedas - com a menina que caiu da janela, o padre aterrisante que alfinetou os balões e a derrota trabalhista em Londres -, o momento é de agredir, aproveitando-se do alta popularidade do presidente, da audiência dos últimos capítulos da novela e do levante no Tibete. O investment grade aquece os termômetros: é hora de ir às compras.
Os ventos que sopram de Nova Iorque trazem a moda do casaco de couro sintético, o seriado policial e a primária escolha do presidente-de-infantaria do cenário mundial. Do Atlântico Sul chegou o ciclone, seguido da defesa civil, das verbas para reconstrução e da porcentagem desviada para o caixinha da campanha. A época de turbulências é propícia a decolagens na carreira: faça um curso de ida, sem curvas, ao corolário de exemplos vencendores.
Para além de todo empenho e motivação, cuidados com o corpo ainda são fundamentais. Com Pilates, lave as mãos, os dedos e as curvas esculpidas da vida. O preço dos alimentos preocupa se duas notas não compram um quilo. Perca peso, pergunte-me como, e responderei: leve uma vida simples, sem notas, sem pesos e medidas. A solução está na administração oferecida pelo serviço exclusivo da casa bancária de reputação amortizada pela crise hipotecária. Administram seus bens sem fazer o mal. Amém.
E o ciclo é reciclável, apesar das embalagens, em massa descartáveis.
Do alto se avista, ao fundo, o sub-produto do investimento bem-feito. De baixo, salta do topo uma corda dourada, que convida à escala - e enforca.