terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

eternos lapsos 1

No fim, dentro do escuro sem fundo, sobra nada.

Vazio de uma esqualidez de provocar inveja em qualquer fio de lembrança. Tanto mais ancho que os dentes famintos de uma navalha banguela. Vem o corte e ninguém mais sorri, nunca mais ou menos irá sorrir. Nada a dizer, nada para ver, nada de sentir, nada de nada para justificar tantos nenhuns, ninguéns, sequeres e espasmos involuntários de esperança.

Depois de uma breve eternidade, veio o silêncio brincar de assoprar fumaça de cigarro contra meu peito. Depois de tantas breves eternidades, o silêncio já consumiu todo o ar que eu gostaria de respirar e enjoou das batidas de meus músculos. Quer agora somente ir embora levando o corpo calado. Bate a porta num barulho ensurdecedor.

Sem silêncio, sem ar, sem peito, sem eu.

Nenhuma janela de esperança no horizonte sem cor, nenhum sol amarelo para incomodar o olhar costurado por fios de trevas pretas como o absoluto.

Não há motivos para sorrir porque acabou o sorriso e a graça que fazia dele tão impulsivo. Desconfio que nunca houve motivos para sorrir mas meus cantos da boca achavam isso engraçado. Agora vem a piada do nem isso:

Sobraram ontens que serão apenas um lapso dos amanhãs que sequer irão nascer.