segunda-feira, 11 de julho de 2011

breves eternidades 1

Não faz diferença se eu começar a contar até um e for até cem ou prosseguir até minhas minhas forças me mastigarem antes do último sorriso. Todos os zeros me descendo pela garganta ainda serão um fio pronto para se dissolver. Não é uma questão de tempo, é mais do que isso. Não é como um grão de sal no oceano. É menos do que isso. Acordei com sede para um porre capaz de me livrar do peso das solas de meus pés. Chutei para o alto toda despretensão e me pendurei pelos tornozelos no pescoço do primeiro pensamento enforcado que me sobrevoou a cabeça. Sair voando por aí com pose de decapitado tem lá seu charme ou alegoria, deve ter. Vejo, ou imagino, lá embaixo uma criança branca, dedos ainda mais brancos, quase refletores, perguntando mãe aquilo é um balão de ar com pernas e braços ou um homem esvaziado de sua cabeça. Mais uma pergunta fossilizada coberta pelos sedimentos gelados da impossibilidade. Não há resposta que consiga superar perguntas que se estendem pelo infinito. Ainda estarei pelos ares quando aqueles tornozelos se juntarem a minha presença, agora rarefeita, sem pé nem cabeça. E ainda estaremos empoeirando um grão de poeira, abraçados, talvez, em algum buraco obscuro do tempo, quando o próximo sonâmbulo decidir pela corda antes que o moinho da eternidade lhe apresente os finos fios com que esmaga a inocência da eternidade.