quinta-feira, 31 de março de 2011

Ocasionais 6

O que é você que só é corpo? Aí estendido, solto, vazio, o que é você? Ontem eu te conhecia, mas agora você não é mais quem eu conhecia. É o que? Você não pode me responder, eu sei, mas isso você já não sabe. Não responde porque não sabe que não pode me responder. Você não sabe mais de nada. Eu queria saber o que é você agora, queria saber o que serei quando já não puder mais saber de nada. No vazio não há perguntas nem respostas, eu sei, entendo, ou deveria entender. Mas ainda assim sempre me pergunto se o silêncio combina com a eternidade. Pelo jeito não é você, corpo só que não consegue mais me dizer nada, que não é mais nada, quem vai fazer algum barulho.

Não posso te odiar, te xingar. Seria como me debater contra um saco de areia e ossos. Se ainda te amo? Seria como beijar o vento. Vou virar as costas e ir embora e você não vai poder sentir minha falta porque o que falta agora é você. Um dia serei também somente ausência, tua ausência não será mais minha lembrança, e então finalmente poderemos dizer que não significamos nada um para o outro. Por ora, enquanto me viro e saio furioso por ter me abandonado para sempre, você está presa em uma lágrima.