segunda-feira, 18 de abril de 2011

Ocasionais 7

Eu tenho uma explicação racional, mas você não vai querer entender. Eu disse que não vai querer, não que não vá entender. Não importa, você não é importante, e eis meu primeiro argumento, a primeira perna de minha teoria, a primeira pancada com que pretendo lhe quebrar as pernas. Repito: você não importa, parado, arrastado, de cócoras ou de queixo para o céu.

Vou tentar explicar, me dê as mãos e se faça companhia. Você sempre irá perder todas as coisas que desejou antes mesmo de conseguir pensar em alcançá-las. É empírica sua capacidade de fracassar diante de tuas vontades. Seu pensamento o boicota, não preciso me esforçar para convencê-lo de nada mais do que tal raciocínio.

Não é que não saiba desejar, isso não existe. Sim, os desejos existem, o que não existe é ser inepto para desejar. Desejar é verbo, um grito solitário que ecoa pelos subterrâneos da pele, desejar é libertar um ventríloquo monstruoso que te enredará com as tuas mais fortes fraquezas. Bem, mas isso é sábido e conhecido, está no dicionário sentimental de qualquer adolescente. Pelo jeito nunca teve um desses, não é?

Não largue a minha mão, precisa mais de mim do que um dia pude imaginar. O que deseja? Não seja tão educado. E menos óbvio, por favor. Você nunca teve razão, é isso. Teus objetos, o que projeta, onde se joga, faltam-lhe razões. Os terrenos de teus desejos são teias de insensatez. Não, eu não disse que não seja razoável, disse que suas razões são embaladas no colo de uma brisa alaranjada e fraca. Deixa-se levar pela conversa magra de qualquer sentimento, vai com as outras como veio comigo.

Só poderia ser mesmo um refém dos intransitáveis sons que te percorrem, dessas linhas que te movem para lugar nenhum, cordões que te fazem encenar gestos caducos e tímidos. Você foi silenciado pelos verbos, está condenado a perder tudo o que deseja sem nada alcançar. Nem pensar, nem pensar. Corroído pelas pancadas, manca guiado por mãos que não trazem solução ou explicação, mas uma dúvida fria e dolorida, entende? Não importa...