domingo, 20 de maio de 2007

Sérias 10

Era uma conversa horizontal. Mas entreolhavam-se de cima para baixo. Alternadamente.
- Com tudo.
- Nem tudo. Simples seria se.
- A gente se acostuma com tudo. Nada é indiferente a nossa indiferença.
- Como nos concebemos. Não do que somos
- Somos só a parte viva do que pensamos. Como nos concebemos.
Os silêncios eram comuns. Minutos duravam, não raro, horas. Palavras medidas, não cabidas em simples sílabas
- Nem tudo
- Ou tudo
- É como a fome.
- De quê?
- Ninguém se acostuma com a fome. Come.
Moveram gestos lentos. Puderam se engolir em paz. Com a fome dos que tem fome. Até a próxima indigesta discussão.

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