quarta-feira, 25 de julho de 2007

Pérfidas 6

Começa assim, na horizontal parado. Deitado. Os olhos nos cantos do teto. Uma aranha. Eu também me encostaria por ali. Se uma de suas pernas convidasse. Músculos moluscos, vadios. Deitados, parados. Projeto um dia me levantar. Minha vingança: um estirão em tuas fibras. Não cessarão tabefes sobre tabefes. Depois, um dia. Por enquanto, deitados. Parados. À espreita da teia. Nesse emaranhado de pensamentos coagulados, o sangue se acanha. Nem ousa subir à cabeça. Malditos pés, tremidos. Descobertos e expostos aos suspiros frios. As vozes da televisão soam como gritos do além. Gemidos infantis traqueados por luzes incolores e bonecos de plásticos, peles e ossos. Vozes em vão vêm e vão. Imobilizados, os sentidos não sentem. Alheios. É como querer permanecer. Arrefecer-se granulado por entre os vãos dos lençóis amassados. Deitado, parado. Inanimado. Rostos conhecidos são por demais conhecidos. Cansaram de ser linhas de expressão – não expressam mais que indiferença. Gentes carregando o fardo de existirem como gentes. À indiferença, rezo e rogo. A proteção e calma de um útero. O silêncio fremido uterino. Terminaria em posição fetal, abraçando-me. Mas os olhos procuram os cantos dos tetos das teias dos palpos das fibras dos tapas das idéias insensatas pouco exatas insensíveis suspiradas como gentes natimortas. Acabo na horizontal, deitado. Parado.

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