segunda-feira, 23 de julho de 2007

Sérias 11

Esse mundo, de cabeça pra baixo, dizia eu menos preocupado em falar do que olhar. Era o olhar.
- Esse mundo desanda de cabeça pra baixo.
- Desanda, não anda?
Desanda porque trança as pernas pra insistir em andar reto, responderia se hipnotizado não me fizesse. E em seus olhos me desfizesse.
- De cabeça pra baixo.
- Foi só um avião que caiu de cócoras.
Sorria timidamente calada e o silêncio ofuscava.
Minhas palavras seriam demoradas e pormenorizadas, correspondentes ao teor de inquérito sério da conversa, penso agora, ao escrever, este algo que nem me passou pela cabeça naquele momento – estava preso aos olhos. Cárcere privado, os olhos.
- Não, não. Falava de você.
- Eu?
- O que caiu fui eu.
O que caiu fui eu, esborrachado, de corpo prostrado, livre para queda, saltado de um trampolim ornamental de universos de altura, faria força para completar os afoitos pensamentos, se... À condição de que seus olhos me libertassem.
- Você caiu, a culpa é minha e por isso o mundo desanda de cabeça pra baixo. Mais ou menos isso?
Era séria, falava sério, ironizava em série - para mim um eterno mistério
- Exatamente.
Exatamente, queria ter dito enquanto pronunciava exatamente. Era só, não haviam mais palavras exatas aos olhos de seu brilho.
- O que exatamente?
- Cai, você me derrubou, passou a rasteira, atraiu-me para o tropeço. E quando percebi, estava no céu.
Estava no céu depois de caído, mundo de cabeça pra baixo, tentaria eu explicar se lá no alto de seu olhar não faltasse ar pra respirar.


Nenhum comentário: